Ex-desembargador e motociclista se envolvem em confusão no Recife com armas empunhadas e gritaria; PM denuncia desacato
24/09/2025
(Foto: Reprodução) Confusão aconteceu próximo ao Espetinho do Picuí, na Rua Benfica
Google Street View/Reprodução
Um desentendimento entre um ex-desembargador e um entregador de aplicativo terminou em confusão na noite da quarta-feira (17), no bairro da Madalena, na Zona Oeste do Recife, com troca de ofensas a policiais, armas empunhadas no meio da rua e um boletim de ocorrência por ameaça e desacato, registrado na Delegacia do Cordeiro.
O caso foi divulgado inicialmente pelo jornalista Emerson Freitas em suas redes sociais. Em entrevista ao g1, o motociclista Miqueias Santos de Moraes contou que se desentendeu com o desembargador aposentado Bartolomeu Bueno de Freitas Morais nas proximidades do Espetinho do Picuí, localizado na Rua Benfica.
✅ Receba no WhatsApp as notícias do g1 PE
Segundo Miqueias, ele estava aguardando um pedido de entrega por aplicativo quando o desembargador chegou em seu carro com um revólver calibre 38 e apontou a arma em sua direção, ordenando que ele saísse do caminho. Intimidado, ele disse que procurou uma viatura da Polícia Militar para informar a presença de um homem armado na região.
“Eu vi na hora que ele pegou o revólver e saiu do carro. [Disse] ‘Tira essa m*rda daí’. Eu peguei e vi que ele estava embriagado, com a voz grogue. [...] Quando ele apontou a arma para mim, não tinha ninguém, só eu e ele”, contou.
Ainda de acordo com o motociclista, um sargento e um cabo da PM foram até o local para acompanhar a situação. Após a chegada dos agentes, Bartolomeu Bueno teria se exaltado e ofendido os policiais, identificados como Flávio de Almeida e Leonardo Medeiros.
O g1 teve acesso ao boletim de ocorrência registrado após a ação. Nele, os policiais militares que atuaram no caso afirmam que Bartolomeu Bueno destratou a equipe, se apresentou como desembargador e mostrou a arma que portava na cintura quando os agentes chegaram ao local. Segundo a versão dos policiais, ele apresentava sinais de embriaguez.
“Ele xingou todo mundo. Xingou o sargento. Falou um bocado de palavrão. [...] Ele só baixou a arma porque era ele com a arma na cara do sargento dando a ordem. Foi um com a arma para a cara do outro. ‘Baixa a arma, rapaz! Baixa a arma’, aquele rolo”, contou.
No boletim consta também que, diante da situação, os policiais acionaram o Centro de Operações da Polícia Militar (Copom) para o envio de reforços. Enquanto aguardavam, Bartolomeu Bueno tentou sair do local e foi impedido pelos agentes, dando início a uma discussão.
“O efetivo orientou o autor novamente para que permanecesse no local, momento que o autor saiu do veículo e sacou a arma de fogo e apontou para este efetivo afirmando que aquela era sua arma e que ninguém tinha nada a ver com isso. O efetivo direcionou as armas para o autor e deu a ordem para que guardasse a arma e a ordem foi acatada”, diz o boletim.
Segundo Miqueias, Bartolomeu colocou a arma dentro do carro, em cima do banco. O motociclista afirmou que aproveitou o momento de distração do ex-desembargador para pegar a arma de dentro do carro e entregar aos policiais.
“Eu estava do outro lado do carro. Arrodeei, o vidro estava aberto, botei a mão, peguei o revólver e entreguei ao soldado”, contou.
Após o desentendimento entre o ex-desembargador, o sargento Flávio Almeida e o soldado Leonardo Medeiros, um tenente da corporação, identificado apenas como Ximenes, foi encaminhado ao local para acompanhar o caso. Lá, o tenente teria prestado continência ao desembargador e se oferecido para escoltá-lo até sua casa. A oferta foi recusada por Bartolomeu.
“O tenente chegou, prestou continência a ele, disse: ‘o senhor está bem? Diga o que aconteceu’. O tenente perguntou onde estava a arma dele. O soldado devolveu, e o tenente disse: ‘o senhor quer uma escolta para ir até em casa?’ O tenente liberou ele", afirmou o motociclista.
Vídeo mostra major do Exército ferido após brigar com PM reformado, que atirou contra ele
Ex-desembargador nega que apontou arma para entregador
Em entrevista ao g1, Bartolomeu Bueno confirmou o desentendimento, mas negou que tenha apontado a arma para o motociclista. Ele disse que apenas retirou o revólver do carro para guardá-lo na cintura, já que havia muitos assaltos na região.
“Encostei distante dele, não desci do carro. Pedi para afastar a moto para não bater e ele pulou. Ali está tendo muito assalto. Estava com meu revólver e peguei, nem apontei para ele. Disse que só estava pedindo para ele afastar a moto. Ele começou a gritar dizendo que eu queria atirar nele”, afirmou.
Bartolomeu contou que saiu de casa para buscar uma encomenda de carne e, enquanto aguardava o pedido, tomou uma cerveja. Ele afirmou que os policiais chegaram perguntando se estava armado e que apresentou o registro da arma e a carteira de desembargador.
“Eu confirmei, disse que estava autorizado. Tirei minha carteira de desembargador com o registro da arma e entreguei. [...] Fui para o meu carro e ele [sargento] disse que eu não ia poder sair. Eu só posso ser preso em flagrante por crime inafiançável. Peguei o carro para sair, nisso já havia chegado uma segunda viatura, como se eu fosse o pior bandido do mundo”, explicou.
Ainda de acordo com o ex-desembargador, ele foi impedido de deixar o local pelos policiais.
“Ele colocou uma arma na minha cara. Eu disse: ‘você sabe com quem está falando, você não pode me prender nem pegar minha arma’. [...] Chegou uma terceira viatura com o tenente. Ele sabia como agir, bateu continência, mandou o sargento guardar a arma dele, devolver a minha arma e perguntou se eu queria fazer alguma reclamação”, disse.
Bartolomeu confirmou que o tenente ofereceu escolta até a sua casa e afirmou ter sido vítima de violência policial. “Foi tudo ilegal, quem sofreu violência fui eu. As câmeras vão mostrar que eu não mostrei arma. Ele [sargento] foi quem me desacatou, eu sou uma autoridade superior a ele”.
Elimário Sebastião Dantas, dono do Espetinho do Picuí, também acompanhou parte da situação. Ele contou que o desembargador de fato pediu para o motociclista afastar a moto, mas negou que ele tenha apontado a arma diretamente para alguém.
“Ele pegou a arma e colocou na cintura dele. Mas não teve isso de apontar a arma para ninguém, não. Na hora de sair, eu acompanhei ele até o carro. O policial disse que ele não podia sair. Aí ele respondeu: ‘vou sair porque não fiz nada’. Nesse momento, o policial botou a arma nele e ele puxou também”, relatou.
O comerciante confirmou que o desembargador aposentado bebeu no local, mas disse que ele não apresentava sinais de embriaguez.
“Ele tomou uma cerveja, só isso. Se eu disser que foram mais, estou mentindo. Não chegou aqui mostrando sinais de embriaguez. Essa confusão aconteceu depois que ele saiu do espetinho, já perto de um fiteiro”, disse o comerciante.
Procurado, o Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) informou que o desembargador não faz mais parte de seu quadro de magistrados por conta de sua aposentadoria.
A Polícia Civil disse que instaurou um inquérito policial para apurar as ocorrências de ameaça e desacato.
Por que os crimes prescrevem? I g1 Explica
VÍDEOS: mais vistos de Pernambuco nos últimos 7 dias