'Superfungo' em Pernambuco: o que é Candida auris e por que apresenta risco em ambiente hospitalar

  • 20/09/2025
(Foto: Reprodução)
Amostra com 'superfungo' Candida auris, em imagem de arquivo Centers For Disease Control and Prevention (CDC) A Secretaria Estadual de Saúde (SES) confirmou, nesta semana, três casos de infecção por Candida auris, microrganismo conhecido como “superfungo”, no Hospital Otávio de Freitas, no bairro de Tejipió, na Zona Oeste do Recife. Dois dos pacientes, que estavam internados na unidade quando foram infectados, morreram em decorrência de doenças pré-existentes. O outro segue em isolamento. Para entender melhor as principais características da Candida auris e os riscos para a população em geral, o g1 conversou com o médico infectologista João Paulo França, presidente do Controle de Infecção da unidade de saúde onde o “superfungo” foi identificado. ✅ Receba no WhatsApp as notícias do g1 PE Segundo o especialista, o fungo pertence à mesma família da cândida comum, mas possui características que o tornam mais resistente. “A Candida auris faz parte da família das cândidas, são fungos já conhecidos da gente, que moram até na nossa pele. Esse ‘auris’ se subespecializou, ficou muito resistente”, explicou. A fama de “superfungo” se deve à dificuldade de combatê-lo. De acordo com o médico, a maioria dos antifúngicos disponíveis no mercado não tem efeito contra a Candida auris porque não consegue se infiltrar na membrana do microrganismo. “Meio que o antifúngico, para ele, ‘é água’. Não encaixa na membrana do fungo”, disse. Além da resistência aos medicamentos, o micro-organismo também é difícil de eliminar de áreas de superfície. De acordo com o médico, uma unidade de saúde nos Estados Unidos chegou a identificar a Candida auris no ambiente mesmo após a demolição e reconstrução de um setor do hospital. “A pior característica dele é que ele é muito resistente no ambiente, então os saneantes que a gente tem, em todos os processos de limpeza, tem uma grande dificuldade de erradicar ele”, explicou. Segundo o infectologista, a cepa encontrada em Pernambuco se mostrou mais sensível aos antifúngicos, mas mantém a resistência ambiental, especialmente em áreas hospitalares. Esse tipo de local é considerado ideal para a permanência do fungo, já que concentra pacientes debilitados e tem uso frequente de dispositivos como sondas e cateteres, facilitando a contaminação. Como surgiu a Candida auris? A comunidade científica tem diferentes hipóteses para o surgimento da Candida auris. Uma delas relaciona o aquecimento global à evolução do micro-organismo, que teria desenvolvido uma membrana mais resistente para sobreviver em temperaturas elevadas. “Como aqueceu, os mais fortes começaram a sobreviver. Ele teve que se especializar para viver num ambiente mais quente e a membrana dele ficou mais resistente para poder sobreviver ao aquecimento global”, explicou. Outra teoria aponta a presença crescente de microplásticos na natureza como fator que favorece a proliferação do fungo. “Ele adora plástico. E a gente está tendo, principalmente na natureza e nos oceanos, muita quantidade de microplásticos. Existem estudos mostrando que, onde temos mais microplásticos, temos mais Candida auris”, disse o infectologista. João Paulo França ressaltou, ainda, que apesar da gravidade em ambientes hospitalares, o risco para pessoas saudáveis é baixo. “Esse fungo gosta de ambientes favoráveis e, para passar de um paciente para outro, ele requer que uma pessoa esteja vulnerável, com a imunidade baixa, e que tenha um contato prolongado”, explicou. O infectologista também reforçou a importância de medidas simples de prevenção (saiba mais no vídeo abaixo). “A lavagem de mãos com água e sabão e, principalmente, com álcool em gel, tem muita eficácia de matar a Candida auris”, disse. Para ambientes domiciliares, segundo ele, produtos comuns como a água sanitária são eficazes. Segundo o médico, a vigilância constante nas unidades de saúde é essencial para acompanhar o surgimento de novos focos de contaminação. “Meu conselho para os gestores de outros hospitais é: procure. A gente está com medo de que a cândida já esteja em outros lugares, mas o pessoal não está procurando”, alertou. Superfungo: veja como previnir contaminação do Candida auris "Superfungo" em Pernambuco O primeiro paciente com Candida auris em Pernambuco foi um homem de 38 anos, internado no Hospital da Restauração, no bairro do Derby, área central do Recife, no final de 2021. Os exames, porém, só confirmaram a infecção no início de 2022. Em agosto de 2022, o Hospital Miguel Arraes, em Paulista, foi o segundo a confirmar casos do fungo. Em maio de 2023, os atendimentos no Miguel Arraes foram suspensos porque um dos pacientes infectados pelo fungo havia passado por várias alas da unidade de saúde. O hospital voltou a funcionar em junho daquele ano. Em julho de 2023, o governo também interrompeu os atendimentos no Hospital Getúlio Vargas, no bairro do Cordeiro, Zona Oeste do Recife, por causa do superfungo. Após uma semana, a unidade de saúde voltou a receber pacientes. Em junho de 2024, o Hospital Agamenon Magalhães, no bairro do Parnamirim, na Zona Norte, chegou a mudar o funcionamento da emergência de clínica e cardiologia após a confirmação da infecção pelo fungo em uma mulher de 64 anos. A Candida auris foi descrita pela primeira vez em 2009 e já infectou pessoas em mais de 30 países Science Photo Library/via BBC VÍDEOS: mais vistos de Pernambuco nos últimos 7 dias

FONTE: https://g1.globo.com/pe/pernambuco/noticia/2025/09/20/superfungo-em-pernambuco-o-que-e-candida-auris-e-por-que-apresenta-risco-em-ambiente-hospitalar.ghtml


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